Critica Sem Spoiler - Centaurworld
- Manuel Pessanha Costa
- 11 de ago. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de dez. de 2021

Centaurworld ou O Mundo dos Centauros é uma série Musical de animação que foi produzida pela Netflix e Criada por Megan Nicole Dong. A série conta a história de Horse, uma égua que depois de um ataque surpresa, foi parar num mundo de criaturas meias cavalo meias outra coisa qualquer. Com a ajuda dos seus novos amigos, terá que encontrar uma forma de voltar para casa e para junto do seu cavaleiro.
A primeira vez que tive contacto com as primeiras imagens e até trailer do filme, este logo criou alguma espectativa para a série, ao mostrar uma mistura estranha de bizarrice sem sentido de Adventure Time (2010 - 2018), com algo mais sério e tenebroso como Infinity Train (2019 - 2021). Essa química estranha de seriedade e brincadeira suscitou-me algum interesse pela série. E agora que esta estreou, devo dizer que no conjunto deram certo. E se ao início fez-me lembrar as séries que referi antes, esta distanciasse delas por boas razões.
Centaurworld tem uma narrativa numa estrutura já conhecida, no qual um dado personagem cai num planeta ou local desconhecido e junto com novos amigos que vai fazer ao longo do caminho, vai tentar voltar para casa. Mesmo essa estrutura seja bem conhecida e muito utilizada, a forma como a série desenrola-se segue com bastante personalidade. Mas vamos começar por partes. Tal como uma estrutura normal de um filme ou série, este segue claramente a divisão normal de três atos, sendo que estes são divididos pelos nº de episódios. O primeiro episódio segue como introdução, 1º ato, ao apresentar-nos a personagem principal e logo colocá-la no novo mundo. Ao não nos dar nenhuma informação sobre mundo da personagem principal, a série deixa uma brecha bastante acertada ao colocar esse mistério nas nossas mãos. A introdução do mundo novo acontece de forma abrupta, mas bem estagnada pois esta súbita apresentação dará todo o tom que a série terá nos restantes atos. Depois temos o segundo ato, que serão todos os episódios até ao antepenúltimo. Neste segundo ato, que é o ato desenvolvimento, a série toma a dianteira ao apresentar e desbravar este novo mundo desconhecido. O mundo de Centaurworld consegue ter o seu charme por ser bizarro e estranho, principalmente por a série adotar sempre um tom misto de uma certa insegurança, embora todo este mundo seja mágico e quase inocente. A série não consegue equilibrar muito bem o seu humor exagerado com os momentos mais sérios, levando por vezes levar demasiado além esse tom de humor, podendo cansar em certos momentos. Outro ponto a citar são os obstáculos que os personagens conseguem ultrapassar que refletem bastante bem o seu estado de espírito, além de alguns temas que a série aborda como a amizade, a família, a depressão e a lealdade. Já o terceiro ato, é onde a série guarda bastantes surpresas por revelar e que nos apresenta o grande vilão da série, que até antes só fora citado. Este último ato, ganha um tom mais sombrio e sério, em comparação com os outros atos, ainda que não abandone por completo o seu humor. Algumas perguntas são respondidas, mas novas surgem, conseguindo dar um gancho para uma nova temporada. As lutas neste 3º ato são eficientes e respostas são condizentes com o que está a ser apresentado.
Quantos às personagens que a série nos apresenta, o que mais se destaca é a Horse. A égua que toma as rédeas como protagonista, assume tanto este papel como também de canalizador da nossa própria experiência neste novo mundo apresentado. Enquanto na série que falei anterior Adventure Time, os protagonistas Finn e Jake assumem o seu mundo como algo normal e nós, como espetadores, tendemos a aceitar aquele mesmo mundo como algo natural e tendemos a tentar normalizar aquele mundo. Já aqui em Centaurworld, é diferente! Horse toma aquele novo mundo como algo pouco natural ou estranho, o que ajuda na própria ligação entre nós e a personagem, afinal, estamos também a conhecer aquele mundo tal como a protagonista. Assim, seguimos o caminho com mais tranquilidade junto com um personagem que conhece tanto como nós. Esta personagem é aquela que desenvolve mais toda a sua personalidade, defeitos e medos, principalmente por agora conseguir falar e se expressar. As Relações que esta estabelece com os restantes da louca manada e com Wammawink, principalmente são bem executados e bem feitos, mas o trunfo fica para a ligação entre ela e o seu cavaleiro. Quanto aos restantes da manada, todos estes parecem ter as suas próprias personalidades e desenvolvem-se de forma convincente. O único que me pareceu mais fraco de todos foi o Durpleton, que pareceu ser aquele que menos se desenvolveu e que a sua personalidade pareceu mais disparatada de entre outros. As restantes personagens secundárias, são no geral, bem entregues. Quanto ao vilão, pouco se pode dizer sobre ele. Parece ser interessante e ter uma história misteriosa por contar, além de conseguir ter presença e cumprir o seu papel de ameaça. Infelizmente, é pouco explorado nesta primeira temporada. Esperemos que numa segunda temporada, boa parte destes personagens consigam ser mais explorados.
Quanto aos níveis técnicos, o que se destaca é a sua própria animação. Megan Dong toma a sábia decisão de misturar dois tipos de traços diferentes para representar os dois mundos. De um lado, usa um traço mais infantilizado, mais simples, para representar o mundo de Centaurworld, com cores mais fortes e contrastantes, e com design de personagens mais simples. Já do outro lado, no mundo estragado dos humanos, utiliza um traço mais sério e preocupado, com o uso de cores escuras e esbatidas, com pouca variação de cores, e um design de personagens mais sérios. Mas ao contrário do que pode parecer, a animação mantém a sua fluidez nestes dois traços, conseguindo se estagnar e até maravilhar. Como é uma série musical de animação, não podia deixar de falar da parte musical desta, que no seu conjunto é muito positivo. A série é repleta de músicas que, ao contrário do que pode parecer, a maior parte tenta e consegue estar inserida na própria trama, ao mostrar o estado de espírito das personagens, quer por exageros ou não. É normal haver músicas menos bem conseguidas, mas no geral, todas parecem bem encaixadas em bem executadas, com uma ótima escolha de vozes. Como assisti à série na voz original, toda a minha critica vai cair sobre este, não podendo opinar, por agora, com a Dobragem portuguesa. Todas as vozes originais estiveram bem, quer em diálogo e, especialmente, nas canções. A música que para mim, foi a melhor desta temporada foi a “What if i Forget your face”, cantada por Kimiko Glenn (Horse), por mostrar parte das preocupações da protagonista.
Em Suma, Centaurworld é série bizarra, estranha, mas que abraça esse seu lado bizarro e estranho sem grandes problemas, ao apresentar uma personagem principal bem desenvolvida e um conjunto de personagem malucas. Pode não conseguir equilibrar bem o exagero do humor e a sua seriedade, mas com certeza é uma serie que recomendo qualquer um a ver.
Pontos Positivos:
- Narrativa interessante, com bons tons de mistério e maluquice.
- Personagem Principal como ligação entre espetador e o mundo apresentado e bem desenvolvido ao longo da série.
- Boa parte de personagem com um bom desenvolvimento e carismáticas.
- Vilão intrigante…
- ótima escolha vocal
- Boas músicas
- Animação com dois traços diferentes, mas bem fluida.
Pontos Negativos:
- Pouco equilíbrio entre o seu humor exagerado e seriedade, podendo cansar.
- Durpleton não muito interessante e pouco desenvolvido.
- Vilão pouco explorado.
Nota: 16/ 20 – MUITO BOM
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