Critica Sem Spoiler - Disney's launchpad: A Short Film Colletion
- Manuel Pessanha Costa
- 4 de jun. de 2021
- 9 min de leitura

A Disney é uma grande estúdio que aposta em grande em filmes de animação ou filmes Live actions de grandes orçamentos que tentam chegar a um grande maior número de pessoas. No entanto, este mesmo estúdio está a começar a apostar também num mercado não tão grande, dando grande visibilidade para novos e estreantes realizadores, argumentistas ou dos mais diversos dos que trabalham com cinema.
Walt Disney Animation Studios ShortCircuit Experimental Films, o qual têm a minha Critica aqui no site, foi uma das primeiras apostas nesse tipo de projeto que dá grande visibilidade a novos realizadores. Nesta coleção de dezasseis curtas entre os 5 e os 10 minutos de duração, o objetivo era encontrar novas formas de contar histórias em animação e novas oportunidades para novos talentos. Embora nem todas as curtas conseguissem sobressair tão bem, achei a iniciativa interessante. Disney’s Launchpad: A Short Film Colletion segue na mesma linha, ao nos apresentar seis novas curtas, agora em live action com cada uma entre 15 a 20 minutos de duração.
Antes de passar para critica de cada uma das seis curtas aqui apresentadas, como normalmente faço neste tipo de coleção de curtas onde faço a critica a cada uma das curtas, vou já mostrar alguns pontos gerais de todas elas.
O ponto forte deste projeto é a sua aura pessoal que cada curta transparece. Ao invés de ser curtas-metragens que tentem entrar no gosto das pessoas, são curtas que têm um toque pessoal especial, sendo o próprio espetador a ter que forçar a entrar em cada uma das histórias. Já o outro ponto forte a seu favor, fica na diversidade de temas, de culturas, de novas visões de ver o mundo e o próprio ser humano que estas curtas fazem querer mostrar e valorizar, sem nunca perder o sentido critico e o seu próprio humor.
- Dinner is Served (O Jantar está Servido)
Dirigido por: Hao Zheng
Escrito por: G. Wilson e Hao Zheng

Sinopse: Um aluno chinês de intercâmbio trabalha arduamente para um cargo de liderança onde nenhum outro aluno de intercâmbio conseguiu chegar.
Começamos logo com uma curta consegue muito bem espelhar toda essência do projeto.
A narrativa aparentemente simples desta curta, consegue trazer reflexões interessantes sobre poder e a importância ou não do trabalho árduo, além de fazer uma grande critica a instituições e empresas que se aproveitam desse mesmo trabalho árduo para se tirar proveito e subir com eles. Será que valerá assim tanto trabalhar muito, para só dar á empresa o seu tão prestigiado prémio de boa empresa? Desde os personagens bastantes humanos até ao final amargo que a curta deixa, torna estes 20 minutos bastante compensadores e pensativos.
Tenho que dar destaque ao ator Qi Sun que interpreta o protagonista Xiaoyu, além do restante do elenco por terem conseguido fazer papeis tão convincentes que conseguiram transmitir muita coisa só pelo olhar ou expressão. Claro, nem todos foram perfeitos, e há alguns deslizes, mas no geral, todos fizeram aquilo que competia para o que a curta pedia.
Já níveis de direção, Hao Zheng mostra um grande controlo nos planos e na câmara, sabendo bastante bem o que quer mostrar e salientar e o que esconder. O interesse do realizador é mostrar a reação do protagonista e dos mais personagens, não dando tanto destaque ao que eles estão a reagir. A cinematografia realista e banda sonora bem trabalhada, ajuda bastante na construção do curta, sem quebrar o seu ritmo e a sua narrativa.
Em suma, uma ótima curta, com um ótimo coração e uma ótima direção.
Nota: 18/ 20 – EXCELENTE
- The last of Chupacabras (O Último Chupacabra)
Dirigido e Escrito por: Jessica Mendez Siqueiros

Sinopse: Uma Mulher Americana-Mexicana solitária invoca sem querer a última criatura sombria e ancestral da sua espécie.
The Last of the Chupacabras usufrui de uma narrativa simples e desenvolve-a pouco a pouco com poucos recursos e muita alma. Com uma temática mais fácil de ser entendida e até de se relacionar, esta curta consegue mostrar um pouco da solidão de uma pessoa a viver num outro país com uma cultura diferente. Não é uma narrativa tão profunda, mas tem os seus méritos ao apresentar uma personagem amigável e com uma grande simpatia e emoção. O final é bastante satisfatório e até consegue aquecer os nossos corações, ao mostrar que não estamos sozinhos em qualquer lugar e que facilmente conseguiremos arranjar uma amizade, por diferente que sejamos.
A nível de direção, Jessica Mendez Siqueiros opta por usar planos mais longos e gerais, com a maioria a usar simetria nas suas composições, fazendo um pouco lembrar Wes Anderson, dando uma artificial, mas que parece mais uma história que a própria realidade. Já a cinematografia é cheia de cores quentes, refletindo a cultura aqui a apresentada: a cultura mexicana.
O uso de uma marioneta para encarnar a tal criatura que vai se relacionar com a personagem, foi uma ideia bastante coesa com a proposta da curta. O design desta mesma criatura é bastante interessante. No entanto, a sua movimentação e modo de “animar” a criatura, principalmente planos onde se mostra a criatura como um todo, dá uma certa artificialidade ao mesmo, podendo por vezes não nos conseguir fazer entrar naquele mundo. Talvez se tivessem optado por usar planos mais fechados sobre a criatura ou só fazer partes da criatura nesses mesmos planos abertos, tapando os restantes de alguma forma, tal como franquia “Muppets” fazia, teria tido um resultado mais interessante.
No geral, The Last of the Chupacabras é uma boa curta que consegue satisfazer o que pedia, com uma história interessante e uma identidade única.
Nota: 16 /20 – MUITO BOM
- American Eid (Eid Americano)
Dirigido e escrito por: Aqsa Altaf

Sinopse: Uma miúda muçulmana, imigrante do Paquistão, confronta-se com o facto de Eid, uma tradição muçulmana, não ter qualquer relevância nos Estados Unidos, e fará de tudo para conseguir que este dia seja especial, além de tentar voltar a se relacionar com a sua irmã.
Esta curta, tal como The Last of the Chupacabras , segue a questão cultural de uma pessoa que se diverge da cultura do país onde esta habita, só que aqui, o tema avança para as consequências dessa divergência e não na solidão da mesma.
A curta toma duas frentes na sua execução. A primeira é a relação entre a protagonista e da sua irmã mais velha. A relação delas parece mais distante do que outrora, o que reflete á protagonista agarrar-se na única coisa que tem para tentar voltar a conectar-se com a sua irmã. Nessa frente, a narrativa cai um pouco no clichê, mas não deixa de ter um pouco de alma dentro de si. Já a outra é parte cultural. A miúda quer se sentir em casa, tentando manter os seus costumes no país onde vive, que infelizmente, não têm tanta relevância ali. Nesta frente, a curta consegue se desenvolver melhor, explorando bem esta vertente. Estas duas frentes combinam-se bastante bem e o resultado é bastante positivo e recompensador no final, embora previsível.
Aqsa Altaf consegue transportar-nos para aquele momento com o bom uso de recursos cinematográficos. Primeiro utiliza uma cinematografia mais crua e viva para dar realce às relações humanas e culturais. Depois usa uma banda sonora que mistura a música tradicional do Paquistão com travos de sons mais ocidentais, dando um tom mais homogéneo a todo o projeto.
Em Resumo, American Eid traz uma proposta interessante e coesa, que consegue combinar o melhor de dois mundos distintos, mostrando lado de esperança na sua execução.
Nota: 17/ 20 – MUITO BOM
- Let’s Be Tigers (Vamos Ser Tigres)
Dirigido e Escrito por: Stefanie Abel Horowitz

Sinopse: Avalon, após a morte da Mãe, encontra o conforto quando vai tomar de uma criança por uma noite.
Let’s Be Tigers é uma curta bastante intimista, que consegue fazer tudo o que propõe e ainda consegue se relacionar com estes momentos que todos estamos a passar.
Ao contrário das outras curtas que apostam numa narrativa mais coesa, esta curta toma outro rumo. Toda curta aborda os sentimentos e emoções da personagem principal e estado de luto da personagem com a morte do seu ente querido. Toda a narrativa do curta toma por base a protagonista e avança sobre todos os seus problemas pessoais, as consequências destas e como o conforto de uma mente inocente pode ajudar a passar o desconforto de algo terrível, através de puro desenvolvimento sentimental e emocional . Mas a curta a ganha mais peso ao se relacionar com a própria realizadora e seu estado de espírito, trazendo assim o seu tema intimista.
Stefanie Abel Horowitz consegue transportar-nos para os sentimentos e emoções da personagem através uma fantástica realização com planos longos e firmes, com uma cinematografia fria, mas com toques de esperança, além de uma banda sonora pesada e coesa com toda a narrativa proposta.
Let’s be tigers é a uma formidável curta e mais intimista das seis, conseguindo surpreender ao trazer uma narrativa sensorial e emotiva.
Nota: 19/ 20 – EXCELENTE
- The Little Prince(ss) ( O Pequeno Principe(zinha) )
Dirigido e escrito por: Moxie Peng

Sinopse: Uma amizade é formada e posta á prova quando o pai conversador de um começa a questionar o facto o amigo de seu filho gostar de coisas cor-de-rosa, fazer balé e brincar com bonecas.
Temas que vão contra os tabus da sociedade, começam a surgir no ramo cinematográfico. Questionar estas “regras” que a sociedade é uma boa forma de mostrar que nem tudo é preto ou branco, ou melhor, neste caso, azul ou cor-de-rosa.
The Little Prince(ss) toma como partido toda essa discussão e apresenta-nos um personagem diferente do que sociedade quer: um rapazinho que gosta de fazer Balé, da cor rosa, além de Brincar com bonecas. Este só é o ponto de partida que vai desenrolar toda história do curta, que critica a sociedade, confrontando-a com uma ideia diferente e expondo o seu preconceito, de uma forma intrigante e bem executada. O modo como a curta expõe o conceito de entender ou compreender o olhar do protagonista através só de uma pequena cena, já mostra todo o seu mérito.
A Direção de Moxie Peng é bastante consciente de todo este tema e consegue consolidar a sua história com a utilização de recursos cinematográficos coerentes, conseguindo fazer-nos relacionar com aquele contexto e com as personagens. Um bom exemplo é a cena em que os dois adultos ficam a conversar à mesa, enquanto a criança sai de lá. Tal como em Dinner is Served , o realizador focou o plano na reação da criança à conversa que se ouve, deixando essa mesma conversa desfocada ou fora de plano.
Portanto, The Little Prince(ss) é uma curta que retrata muito bem a sociedade e os seus Tabus.
Nota: 17/20 – MUITO BOM
- Growing Fangs (Dentes de Vampiro a crescer)
Dirigido e Escrito por: Ann Marie Pace

Sinopse: Uma estudante Vampira e humana ao mesmo tempo, tem lidar a vida escolar num mundo de criaturas sobrenaturais, tentando esconder o seu lado humano, enquanto fica no dilema se conta o seu segredo ao seu melhor amigo humano.
De entre todas as curtas que aqui apresentaram, este é aquele que entra mais num estilo convencional, quer pela sua temática já usada e abusada em muitos outros filmes e séries, quer pela sua maneira de contar. Mas ao contrário do que se possa pensar, a curta consegue superar todos esses problemas em que se mete, trazendo-nos uma pequena narrativa simples e divertida, num mundo interessante e criativo.
A narrativa consegue apresentar todo o mundo e todas as suas facetas, além de nos dar a conhecer a personagem de uma forma mais direta e firme que muitos filmes/ séries que vemos por aí. A maneira como a história se desenrola é bem executada e bem feita, conseguindo misturar a quebra de quarta parede de forma espontânea, sem quebrar o ritmo da própria narrativa e colocando os problemas do quotidiano de um jovem, com a peripécias sobrenaturais que aquele mundo fictício que cria. Os temas de amizade e de abraçar o que cada pessoa é, sem nunca reprimir ou esconder estes dos restantes, são bem entregues, embora pouco explorados. E claro, o mundo sobrenatural da escola que ensina lobisomens, vampiros e outros seres fantásticos é bastante coerente com toda a proposta do curta.
A direção de Ann Marie Pace consegue passear bem com a trama que tem, através de um brincar e de um sustento de planos firme e convicto, mostrando um certo estilo interessante e divertido. Embora os efeitos práticos sejam mais recorrentes e os efeitos visuais não sejam grande coisa, a diretora consegue apresentar bem o mundo fantástico com o que tem, sem medo de errar.
No geral, Growing Fangs pode ser mais convencional, mas não perde identidade e carisma por isso, trazendo uma simples narrativa entre dois mundos: um humano e outro sobrenatural.
Nota: 16/ 20 – MUITO BOM
Para concluir, Disney launchpad: A Short Film é um ótimo Projeto que traz uma ótima visibilidade para seis novos talentos. Cada curta apresentada é interessante à sua maneira e consegue trazer temas importantes para fazer-nos sentir ou refletir sobre estes. É um grande aroma fresco do conteúdo demasiado mainstream que a plataforma Disney plus tem a oferecer e merece ser vista com certeza por mais pessoas.
Resta saber se Disney conseguirá dar novos oportunidades a estes novos Realizadores e se teremos novas curtas como estas numa possível “2ª Temporada” já confirmada! Enquanto não acontece, fica como minha sugestão para quando não tiverem nada para ver ou para intercalarem com o que estão a ver na Plataforma da Disney.
Pontos positivos:
- Excelente iniciativa
- Ótima seleção de curtas pessoais
- Boa Diversidade de temas
Pontos Negativos:
- Nem sempre os efeitos práticos e visuais conseguem se aliar bem ao tema.
Nota: 18/ 20 – EXCELENTE
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