Critica Sem Spoiler - Turning Red
- Manuel Pessanha Costa
- 15 de mar. de 2022
- 5 min de leitura

Turning Red ou Turning Red – estranhamente vermelho é o novo filme original da Pixar Studios, dirigido por Domme shi e escrito pela mesma junto com Julia Cho e Sarah Streicher que estreou no canal de streaming da Disney, o Disney Plus, no dia 11 de março de 2022. O filme conta a história de Meilin, uma adolescente de 13 anos que vive uma vida adolescente junto com as suas amigas, enquanto ajuda os seus pais lá em casa. Mas quando uma maldição assola a jovem, fazendo-a transformar num grande panda vermelho sempre que sente grandes emoções, Meilin terá que lidar com esta nova variante na sua vida.
Já em outras críticas eu referi a importância de como as curtas-metragens, quer de animação ou não, não devem ser de todo ignoradas, principalmente por quem gosta e aprecia cinema. Uma curta-metragem já mostra todas as virtudes e fragilidades de um pequeno ou grande artista, que mais à frente, quando este for escrever ou dirigir um filme de uma hora e meia (ou mais), estes podem ser acentuados ou podem ser corrigidos. Um Bom exemplo disso está no filme Luca (2021), no qual o realizador deste, Enrico Casarova já tinha dirigido e escrito uma curta da pixar La Luna. E Domme Shi segue o mesmo caminho. Tendo dirigido e escrito a curta da Pixar Bao, de 2018, que passou antes de The Incredibles 2 e tendo ganho o Óscar de Melhor de Curta-Metragem de Animação, Domme Shi conseguiu provar um excelente desenvolvimento do tema que tinha em mãos: o afeto extremo maternal. Através de uma analogia simples no qual comparava o filho dessa mãe com um Bao (comida tradicional Chinesa), mostrando assim como este, aos olhos da mãe, este era frágil e pequeno, mesmo este mostrando já traços maduros. Já em Turning Red, Domme Shi não perde a sua habilidade em mexer com analogias, conseguindo assim ir mais além daquilo que uma curta-metragem lhe proporcionava.
Turning Red, em si, é uma extensão do que vimos em Bao. Não no sentido que este estende a história da curta, mas sim que este segue os mesmos passos, mas de outra forma. Em Turning Red, o tema central já não é a proteção excessiva maternal, mas sim as mudanças emocionais e de relação que surgem com a puberdade. A analogia feita do surgimento destas mudanças através de um grande panda vermelho é eficiente e se consegue sustentar muito bem ao longo do filme, embora no terceiro ato, na minha opinião, esta pareça ficar mais frágil a nível da sua coerência. No entanto, o tema da proteção excessiva maternal não é de todo esquecida e surge ainda em segundo plano, desenvolvendo-se bastante bem, sem grandes metáforas, ao mesmo tempo que o tema principal. Somando-se a estes dois temas, ainda surge um terceiro tema ainda mais escondido que é questão do aperto da cultura de uma dada etnia (neste caso chinesa) e como esta pode se relacionar com a cultura diferente do país onde está inserido. Para meu desgosto, este tema não é tão bem aproveitado e desenvolvido, mas isso não estraga completamente a experiência que o filme proporciona. Com estes temas em mãos, a narrativa de Turning Red desenrola-se de forma natural sobre eventos do quotidiano de uma adolescente, conseguindo misturar bem o humor e o drama na medida certa, sendo assim divertido e emocionante. Dou também ainda destaque para a equipa de argumentistas e a direção do filme ser composta somente por mulheres. Numa narrativa no qual se conta sobre a puberdade de uma jovem adolescente do sexo feminino, é importante que este tivesse um certo cuidado e experiência de como contar e mostrar essa mesma puberdade. Não que um homem um homem não pudesse fazer um bom trabalho neste requisito, mas ao ter uma forte presença feminina, que com certeza já deve ter passado por estas experiência, dá alguma naturalidade à forma como se trata estes temas, sem que estes possam ser representados de forma superficial ou artificial. E ao contrário do que se pode pensar, este filme não é só feito para o público feminino. Claro que uma jovem ou mulher conseguirá relacionar-se mais facilmente com as situações que são postas e transmitidas no filme, mas isso não quer dizer que o publico masculino não possa também se identificar naquelas situações. Afinal todos nós passamos pela puberdade (ou vamos passar por ela). E mesmo que a puberdade masculina não seja semelhante á feminina, isso não quer dizer que esta não tenha alguns traços em comum, como a rebeldia, desobediência dos pais ou até aquelas pequenas paixonetas (não muito acentuadas, talvez, como as das mulheres, mas ainda assim presentes).
Já a nível de personagens, Meilin consegue ser uma protagonista interessante, divertida e é o elo entre o filme e espetador. A personalidade da personagem é bem desenvolvida ao longo do filme, principalmente a sua relação com os seus pais (principalmente com a sua mãe) e com as suas amigas. Já a Mãe de Meilin, Ming, é outra personalidade que tal como a protagonista, é bastante desenvolvida. É uma mãe preocupada com a filha e que demonstra ser bastante protetora com ela. A relação dela com a filha e principalmente com os restantes membros da família são bem delineados e entregues. Já as amigas de Meilin (Miriam, Abby e Priya) conseguem ser bons suportes emocionais da personagem principal e ajudam a desenvolver melhor a personalidade da mesma. As personalidades destas conseguem ser interessantes e contagiantes. Quanto aos restantes personagens, estes cumprem bem a função que a narrativa lhes atribui, embora não haja nenhum que se destaque assim tanto quanto as personagens antes que citei.
Já a níveis técnicos, o que chama logo a atenção de muitos fica no próprio estilo de traço da animação. Ao contrário de muitas produções da Pixar, tal como Luca (2021), Turning Red se distingue pelos seus traços exagerados e simples, que fazem lembrar muito as obras dos Studios Ghibli. As Expressões são mais exageradas e estridentes aos nossos olhares, algo que casa bastante bem com o tema central do filme. No entanto, mesmo com esses traços diferentes, as texturas que são utilizados para os vários tipos de materiais são bem trabalhados e detalhados como os próprios filmes da Pixar nos habituaram-nos a ver. Porém, houve um único pequeno momento em que a animação não ficou tão bom quanto podia que foi mais no último ato, no momento que um dos personagens está agarrado a um ser gigante, os pelos deste pareçam artificiais e irreais. Mas foi o único momento que senti isso. De resto, em todo o filme, estes mantiveram sempre a mesma qualidade.
Em Suma, Turning Red é mais uma obra da Pixar que merece ser apreciada e vista. Com uso de uma analogia bem conseguida e o usufruto de temas interessantes e importantes, o filme se sobressai pelo seu traço único e pela sua expressividade. Para toda a família, é um filme que eu realmente recomendo a ver.
Pontos positivos:
- Analogia com a puberdade emocional bem entregue em boa parte do filme
- Tema secundário sobre afeto extremo maternal bem trabalhado.
- Bom equilíbrio entre humor e drama.
- Muito bom desenvolvimento das personagens Meilin e Ming, e a relação das duas.
- Bom desenvolvimento da relação da Meilin com as amigas
- Animação com traço diferente, mas sem perder a qualidade Pixar
Pontos Negativos:
- A analogia mostra algumas fragilidades no terceiro ato
- Tema secundário sobre o aperto cultural dentro de outro país pouco explorado
Nota: 18 / 20 - EXCELENTE
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