Critica Sem Spoiler - The Vigil
- Manuel Pessanha Costa
- 10 de ago. de 2022
- 6 min de leitura

The Vigil ou The Vigil: O Despertar do Mal, é um filme de terror que estreou nos cinemas americanos a 26 de fevereiro de 2021, mas só chega cá a Portugal mais recentemente no dia 11 de agosto de 2022. Dirigido e escrito por Keith Thomas, o filme conta a história de Yakov Ronen (Dave Davis) que aceita fazer uma vigília a um morto na comunidade judaica de Boro Park, em Brooklyn. No entanto, o que parecia uma simples noite, torna-se logo num pesadelo quando uma entidade demoníaca começa a assombrá-lo e atormentá-lo durante o seu trabalho.
“Less is more” (Menos é Mais) é uma expressão muito conhecida proferida pelo arquiteto Mies Van Der Rohe e que facilmente se consegue associar ao cinema através do dinheiro que se gasta para o fazer, isto é, o seu orçamento. O orçamento num filme não dita e nunca ditará a qualidade da sua história e do próprio filme. Filmes com grandes orçamentos, que embora abusem no espetáculo de efeitos visuais, por vezes pecam em histórias sem grande consistência ou em enredos básicos, simples e clichés, enquanto filmes com baixo orçamento podem trazer narrativas interessantes e até inovadoras. Se um filme de grandes orçamentos tem mais facilidade de concretizar as suas ideias, um filme de baixo orçamento tem de usar formas criativas para conseguir contornar as suas limitações e gastar o menos possível, de forma a ter resultados interessantes. Dentro do género de terror, o que mais se vê são filmes de baixo orçamento que abusam do seu próprio orçamento, através de efeitos visuais fracos, para conseguir cumprir o seu objetivo. Porém, sempre temos outros que vão pelo caminho contrário e se beneficiam por ser inteligentes e inventivos para passar as suas adversidades. The Vigil é um ótimo exemplo do segundo grupo, sendo um filme com uma proposta e ideia interessante, que com um orçamento baixo, consegue extrair o máximo da sua potencialidade sem usar grandes extravagâncias.
A narrativa de The Vigil é o principal trunfo do filme. Não sendo uma trama totalmente perfeita, Keith Thomas consegue reconhecer as limitações orçamentais do projeto e tenta ao máximo tirar partido do simples e prático. Ao invés de andar de um lado para o outro, este tenta posicionar a história numa única localização ao longo do filme e tirar partido desse mesmo local para conseguir as suas façanhas. Além disso, tenta ir por um caminho menos convencional e usa a religião judaica a seu favor. Desta forma, consegue trazer um enredo astuto e criativo que brinca e remexe com o psicológico do personagem principal. O ritmo da narrativa pode parecer lenta, mas é suficiente para dar a tensão que a proposta precisa. As artimanhas que o argumentista utiliza para assustar o espetador são bem inventivas. Ao invés de usar jumpscares baratos como muitos outros filmes de terror fazem, opta por criar momentos bizarros, desconfortáveis e tensos, brincando com o real e a ilusão. A primeira vez que esta artimanha é utilizada, consegue obter o resultado pretendido, pelo menos para mim. Infelizmente, já na segunda vez, já se mostra um pouco desgastada, mas ainda assim efetiva. Mas narrativa de Keith Thomas não se fica só por isto. À primeira vista, pode parecer uma simples história de entidade demoníaca que assombra uma casa. No entanto, ao longo da história, começamos a perceber que não é bem assim. O filme quase se consegue traduzir como uma analogia para a dor e sofrimento do protagonista. O demónio aqui representado, é bastante particular e é a representação perfeita desta dor e sofrimento que o personagem sente.
No entanto, como disse antes, a narrativa não é totalmente perfeita. A principal fragilidade da narrativa fica no próprio clímax. Este pareceu ser demasiado curto e pouco desafiador para protagonista, destruindo um pouco da força que a entidade demoníaca estava a exercer antes. Eu percebi perfeitamente a intenção e admito que realmente encaixa-se bem com a proposta do filme, visto que o personagem já superou a sua dor. Mas ao mesmo, o argumentista poderia ter tentado dar alguma dificuldade ou dúvida, para tornar este momento mais denso e firme, e não algo que termina em poucos minutos. Já outro ponto que me incomodou foi que algumas informações parecem importantes, mas depois não são utilizadas. Um exemplo disso fica na suposta falta de jeito do personagem com o seu telemóvel. Ao início, o filme parece dar indício que este problema poderá ser algo que influenciará de alguma forma na narrativa e nas escolhas do personagem. Porém, esta informação é facilmente descartável quando vemos o personagem a usar o telemóvel intensamente e a fazer chamadas ou videochamadas sem grandes problemas.
O personagem principal Yakov Ronen, interpretado por Dave Davis, consegue ser a estrela do filme. O personagem em si já é bem construído, tendo um passado interessante e uma personalidade reservada e calada que consegue facilmente ser relacionável. O ator consegue fazer uma ótima atuação para o seu personagem, conseguindo exprimir as suas reações e emoções de forma natural e orgânica, através não são das expressões faciais como também pela sua postura, sem que caia dentro do exagero teatral. Já a personagem Sra. Litavak, interpretada por Lynn Cohen consegue ser outro destaque do filme. A personagem dela não foge muito dentro daquilo que é estipulada para ela: uma velha que parece senil, mas que se mostra mais sábia do que parece. A atuação da atriz consegue ser condizente com a personagem, além de dar-lhe um ar mais misteriosa e assustadora. Os restantes personagens apresentados na história têm boas atuações e cumprem bem a funções que lhes são atribuídas.
Keith Thomas não só brilha na narrativa, mas também na direção do filme. O cineasta sabe muito bem o que a narrativa precisa para ser mais bem apreciada e contada. Planos longos parados que conseguem manter a tensão no alto. Movimentos de câmaras firmes que conseguem percorrer bem as divisões da casa sem deixar que possamos perder dentro dela, entre muitas outras formas. Mesmo a forma como executa uma simples conversa por SMS no telemóvel consegue ser interessante. O design de produção consegue se salientar ao se escolher um local pouco atípico. Ao invés de uma mansão, escolheram um lar nos subúrbios bem apertada, dando uma certa claustrofobia dentro do local. A posição dos móveis e a ambientação da casa consegue tornar aquele lugar aparentemente simples e banal num lugar assustador. A fotografia muito escura e a banda sonora desconcertante com acordes longos, consegue contribuir mais perfeitamente para ambientação daquela casa. Já quanto aos efeitos visuais, estes são poucos e quase impercetíveis. O Cineasta opta por usar mais efeitos práticos, escondendo bastante o nosso demónio e só mostrar os seus efeitos dele na casa e na personagem. Desta forma, esta entidade demoníaca torna-se mais real e ameaçadora, mesmo que nunca a vejamos de facto. A única vez que se nota mais uso de efeitos visuais e as suas reais falhas é no Clímax, mas nada que possa tirar, para mim, completamente do enredo do filme.
Em Resumo, The Vigil é a prova viva que não é necessário um orçamento gigante para conseguir fazer um ótimo filme. Com uma proposta interessante e com alguma criatividade, consegue-se fugir a este problema de dinheiro e ao mesmo tempo assustar o espetador. Reconheço que não é um filme que possa agradar a maioria do público, mas quem estiver com vontade ver algo diferente e fora da caixa, talvez consiga encontrar o merecido valor neste filme.
Pontos Positivos:
- Proposta intrigante e diferente, com uso de uma religião pouco a habitual em filmes de terror
Narrativa criativa e inventiva, conseguindo contornar os problemas orçamentais através de boas artimanhas
Analogia interessante e bem trabalhada pelo argumento, não sendo só mais um filme de entidade maligna que assombra uma casa
Ritmo lento, mas intencional para dar tensão
Artimanhas que conseguem confundir o real e a ilusão
Personagem principal bem construído e bem interpretado pelo seu interprete.
Boas atuações por parte do restante elenco, em destaque, pela Lynn Cohen (Sra. Litavak)
Muito Boa experiência do cineasta com a camara
Bom uso e usufruto de uma localização simples e banal
Fotografia e banda sonora que ajuda dar ambiente ao filme.
Bom uso de efeitos práticos ao invés de efeitos visuais
Pontos Negativos:
Clímax Curto e sem grande ameaça por parte da entidade demoníaca
Informações desnecessária que são facilmente descartados pelo argumento mais à frente.
Efeitos visuais pouco credíveis no Clímax.
Nota: 18/20 - ESCELENTE
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