Crítica Sem Spoiler - Cruella
- Manuel Pessanha Costa
- 31 de mai. de 2021
- 5 min de leitura

Já à alguns anos que Disney tem apostado nas versões live action das suas animações mais consagradas, tendo grandes Trunfos como Jungle Book de 2016, e outros nem tanto. Maleficent de 2014 foi a primeiro filme da Disney a pôr a vilã de Sleeping Beauty, de 1959, como protagonista no seu filme solo. E Cruella segue a mesma tendência, ao contar história de origem da vilã de 101 Dalmations de 1961.
É bastante complicado fazer um filme onde o protagonista é um vilão já conhecido, pois será complicado a pessoa relacionar-se com este e até aceitar as suas escolhas. No Filme Maleficent, tomaram a decisão de tornar o vilão como heroína, o que acabou por comprometer com a sua personalidade conhecida no filme original. Em contraponto, no filme Joker de 2019 foi feito de outra forma. Este filme não teve problemas em representar a crueldade do seu protagonista, mas deu-nos um gancho para apegarmos à personagem e compreendermos como este se tornou aquele vilão. Já em Cruella, este tenta fazer um misto dos dois, indo ligeiramente mais para a maldade do que para o Heroísmo.
A narrativa de Cruella segue uma linha de progressão do personagem continua, no qual a vemos a mostrar as suas várias facetas e a sua loucura. Nessa progressão, o ritmo do filme flui de forma convincente, embora por vezes momentos dramáticos desnecessários que quase desconstroem a personagem que está a ser contruída tomem mais tempo do que o necessário. Toda a trama consegue ser consistente ao tentar retratar o efeito causa/ consequência quer feito pela protagonista ou pela antagonista e como este afeta na própria protagonista. No entanto, o filme dá algumas escorregadas nalgumas decisões um pouco estranhas e muitas pouco naturais. Já quanto ao grande plot twist que o filme nos reserva, devo afirmar que fiquei surpreendido. Não pelo próprio plot twist em si, mas como foi executada. Este é só nos apresentado quando pensamos que já sabemos tudo o que acontecera e dá-nos uma rasteira que além de ser bastante coerente com toda a proposta que o filme traz, além de casar bastante bem com o tom do filme e com a própria protagonista.
Um dos acertos nessa narrativa foi escolher estar afastado da linha cronológica do filme de onde esta teve origem. Se o filme tivesse deixado o seu final junto ao inicio do filme original, poderia acontecer a personalidade da vilã não condizer com o que foi mostrado no filme original, o que seria uma grande escorregadela para um filme de origem da vilã. Já ao afastar a narrativa de Cruella de a de 101 Dalmations, mesmo por poucos anos de diferença, dá um grande respiro à personagem de terminar o filme solo com a personalidade pretendida, e ainda, durante esse pequeno espaço de tempo, desenvolver o restante aspeto psicológico que dará fruto àquela personagem que nós conhecemos.
E claro, não podíamos falar do Filme Cruella, sem falar de ela mesma, interpretada pela atriz Emma Stone que mostra um trabalho exemplar. Ao contrário da Glenn Close que interpretou esta mesma personagem nos filmes adaptados 101 Dalmations, de 1996 e 101 Dalmations 2 de 2000, e que mostra uma cruella mais cruel e arrepiante, com uma personalidade mais maléfica, Emma stone faz uma cruella com dupla personalidade, alternando em entre um lado bom e um lado mais negativo. A atriz consegue fazer bem esse mesmo papel, mostrando um carisma e uma grande perversidade no seu olhar e nas suas expressões. A progressão da personagem é bastante coerente, mostrando um desenvolvimento de uma personalidade psicótica, mesmo que a sua parte boa tente ainda lutar muito para se manter, resultando numa boa dualidade. No final, a personagem nem é uma heroína, mas sim um estreante vilã que lhe falta pouco para se tornar na detestável Cruella que conhecemos. Outro Personagem que se destaca pela positiva é a Baroness, interpretada por Emma Thompson, que consegue competir com a protagonista ao fazer uma antagonista com uma personalidade forte e detestável, com uma pose forte e imponente, sem perder todo o seu carisma. Já quanto aos demais do elenco, vale destacar Joel Fry e Paul Walter Hauser, que fazem Jasper e Horace respetivamente, os “capangas” da nossa Cruella. Este dois conseguem ser um bom alívio cómico no filme e a sua relação com Cruella é interessante ao ser tremida e comprometida pela psicopatia da mesma. Já o mesmo não consigo dizer de Kirby Howell-Baptiste como Anita Darling, que por muito que o filme tente mostrar alguma importância para ela, esta parece irrelevante para a trama, sendo mais um easter egg para os fãs que propriamente uma personagem que faz mover a história. E por fim, muitos personagens secundários, principalmente figurantes, caiem bastante estereótipos chatos e um pouco caricatos, o que não compromete com a experiência do filme, mas não deixa de ser um problema.
Já a Nível Técnico e Visual, o filme mostra uma grande personalidade e uma grande componente artística invejável que deve ser salientada. A primeira coisa que se deve referir é o figurino e a Maquilhagem, que sem sombra de dúvida que estará nomeado nos próximo Oscars de 2022, nas categorias de Melhor Figurino e Melhor Caraterização. Um filme que aborda toda a temática de moda, não podia de mostrar uma grande variedade de roupas que além de criativas, casam bastante bem com as cores predominantes do filme: o preto, o branco e vermelho. E já seguindo este raciocínio, a composição dos planos e enquadramentos conseguem misturar estas três cores com a atmosfera de londres e dos cenários, e dando uma aura individual ao filme. Já a nível de som, a escolha musical ajuda na composição musical e nas ideias que esta tenta exprimir, e a banda sonora dá grande ritmo ao filme, sem se destoar ou comprometer com o mesmo. Infelizmente, os efeitos visuais não conseguem acompanhar a solidez visual e por vezes mostram alguma fragilidade, notando-se bastante o seu uso, principalmente nos cenários de tela verde.
Em Suma, Cruella é um filme que tem grande personalidade e individualidade e que embora possa parecer um pouco desnecessário, não deixa de ser um filme de divertido que consegue fazer jus à personagem. Não é um filme perfeito, tens as escorregadelas e os seus defeitos, principalmente a nível narrativo, mas não deixa de ser uma boa aposta da Disney para este ano. É um filme que recomendo a ver.
Pontos Positivos:
- Narrativa Interessante, afastada da cronologia do filme original
- Plot Twist surpreendente
- Emma Stone e Emma Thompson brilhantes nos seus papeis
- Figurino e Carterização fantásticos - Composição com personalidade, usando o branco, o preto e o vermelho misturado com os cenários reais,
- Composição musical imersiva
- Banda sonora bem ritmada e coerente com a proposta
Pontos Negativos:
- Decisões estranhas e pouco naturais
- Cenas dramáticas desnecessariamente longas e que comprometem com o ritmo do filme
- Anita Darling não tem tanta relevância como o filme tenta deixa crer que tem.
-Alguns Personagens secundários e Figurantes um pouco estereotipados e caricatos.
- Efeitos Visuais Não tão bem conseguidos.
Nota: 16/20 - MUITO BOM
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