Critica Sem Spoiler - Arcane
- Manuel Pessanha Costa
- 23 de nov. de 2021
- 5 min de leitura

Arcane é uma série de animação produzida pela Riot Games, Dirigido por Pascal Charrue e Arnaud Delord, e distribuída pela Netflix no seu canal de streaming. Ambientada no universo do famoso jogo League of Legends (2008 - presente), mais conhecido como LOL, a série conta a história das personagens do jogo Vi, Jinx e entre outros, dentro do instável equilíbrio entre a cidade do progresso de Piltover e a cidade decadente e subterrânea de Zaun.
Ultimamente, os canais de streaming têm começado a fazer parte da vida de muita gente. A Netflix foi a primeira a entrar neste mercado e a trazer pela primeira vez a ideia de disponibilizar todos os episódios de uma dada temporada de uma dada série ao mesmo tempo, criando assim o primeiro conceito de ver o a série de uma só vez, como um filme. Em contramão, a Disney Plus, veio trazer o velho costume de disponibilizar um episódio por semana, como se fosse na televisão. Assim, hoje em dia, estes dois conceitos de ver uma da série coexistem entre si.
Mas o que isto tem a ver com a série Arcane?
A série Arcane, indo contra o que a Netflix tem nos habituado, decidiu disponibilizar os seus episódios de uma forma única: disponibilizar de semana a semana grupos de 3 episódios o qual chamaria de atos, totalizando assim 3 atos (nove episódios). Embora este modo intrigante de apresentar possa parecer ter nada a ver com o seu conteúdo, esta consegue justificar a sua escolha com algumas arestas por limar ou por aperfeiçoar.
Como foi falado antes, a narrativa de Arcane é dividida em três 3 grandes atos, cada um com três episódios, o qual não só se faz sentir na divisão que fizeram na sua distribuição como na sua trama. O primeiro ato, estreado no dia 6 de novembro de 2021 (os três primeiros episódios) é o ato de introdução no qual se pretende introduzir os personagens e apresentar o foco da série. Este ato é um pouco corrido na sua totalidade, mas consegue apresentar bem as personagens, as suas relações e o principal problema que vai acontecer no decorrer da série. Neste ato, são apresentados dois núcleos de personagens que pouco se tocam ou arranham entre si. Já o segundo ato, estreado no dia 13 de novembro de 2021 (os três seguintes episódios), é o ato desenvolvimento, no qual a série se propõe a pegar as problemáticas apontada no final do primeiro ato e desenvolve esta de uma forma orgânica e bem articulada. Neste ato, os núcleos de personagens dispersam-se entre si, embora não consigam fugir muito do que foi apresentado antes. Já no terceiro e último ato, estreado no dia 20 de novembro de 2020 (os três últimos episódios), que continua onde o segundo ato terminou, é conclusão desta temporada. A série tenta fazer colidir os dois “mundos” apresentados, terminando o arco desenvolvimento dos personagens principais. Quanto ao final da série, esta termina de uma forma bem executada, com uma abertura grande que pode ser facilmente solucionada com uma segunda temporada. Embora a estrutura e a divisão dos três atos seja coerentes com a narrativa entregue, não deixo de notar uma certa fragilidade entre 2º e 3º ato. Isto é, enquanto a divisão do primeiro para o segundo ato se faz sentir pelo intervalo, quer dentro da narrativa da série ou fora dela, a divisão do segundo ato para o terceiro ato só se faz pelo tempo de intervalo entre eles na vida real e não dentro da narrativa. Desta forma, questionasse essa própria divisão destes dois atos e se estes não poderiam ser um só. Uma forma se solucionar este problema seria inserir artificialmente um intervalo de tempo que conseguisse fazer essa mesma separação. Mas com o terceiro ato a dar logo continuidade ao segundo ato, isto quebra por completo essa divisão sugerida anterior. De resto, a série é competente naquilo que traz para a narrativa e naquilo que apresenta. Consegue equilibrar bem os momentos de tensão com os momentos de ação e os raros momentos de humor. Consegue apresentar bem o universo deste jogo para um público maior que pouco o conhece e ao mesmo tempo acolher os fãs de longa data, conseguindo saber para onde quer ir e como quer ir, sem necessitar a plot twists extravagantes ou excêntricos. Por fim, explora bem os temas que o seu rico universo tem a oferecer: desigualdades sociais, Traição, abandono e a dor da perda.
Quanto aos personagens, a série apresenta um grande naipe delas. Vi e Jinx são o centro da atenção de toda a trama e, embora nem tudo gire em volta delas, são aquelas que se desenvolvem melhor. Vi consegue se mostrar uma protagonista interessante e cativante, tendo uma relação bem explorada com Jinx. A série consegue construir bem a personagem do início ao fim, sem perder o rumo na busca pela sua irmã. Já Jinx fica com o desenvolvimento melhor. Todos os traumas e medos, apresentados no primeiro ato, constroem bem personagem e a desenvolvem, mostrando o seu lado mais louco e selvagem, sem perder claro o seu carisma. Já Jayce consegue ter um bom desenvolvimento ao longo da narrativa, embora não se destaque tanto diante das outras duas. Quanto a Viktor, este consegue ter durante o primeiro e segundo ato um bom desenvolvimento de caráter e postura, mas no terceiro parece fica meio abandonando, parecendo que a série não sabe o que fazer com ele. Indo para o lado negro, Silco consegue ser um bom antagonista mostrando uma boa presença e motivação fortes, além de conseguir ter uma relação de pai e filha com a Jinx. Os restantes personagens apresentados na série são interessantes e têm um desenvolvimento decente para os papeis que apresentam.
Já a Nível técnico, Arcane apresenta uma animação interessante, meio 2D misturado com 3D num estilo de pintura de pintura a óleo, com uma ótima fluidez na sua animação. Os cenários são majestosos, cheios de detalhes diluídos, sem criar nenhum ruido visual no seu conjunto. Outra coisa a destacar na animação é o inteligente uso de distorção e rabiscos fortes que mostram com clareza e elegância na sua ruína a loucura da personagem Jinx. Já a abertura da série consegue ser bem acolhedora e eficaz, com o uso da música Enemy do grupo Imagine Dragons que além de ficar no ouvido, consegue se interligar com a temática da série e, mais uma vez, a loucura da própria Jinx. Já o resto da banda sonora, embora tenha presença, não consegue ter tanto destaque quanto deveria. Por fim, a direção Pascal Charrue e Arnaud Delord consegue usar bons uso de planos gerais em longas conversas ou uso de planos mais fechados nas personagens quando quer explorar melhor a psique deles. Nas lutas, todas as ações são bem acompanhadas por cortes precisos e por longos takes que conseguem salientar cada soco dado.
Em Suma, Arcane é uma das melhores surpresas e uma das melhores séries de animação estreadas neste ano de 2021. Com uma narrativa competente, uma inteligente distribuição de episódios e uma incrível animação, é difícil sair desta série sem querer ver mais, sem sentir alguma emoção pela narrativa mostrada ou até de tentar dar um pulo no jogo que a inspirou.
Pontos positivos:
- Inteligente distribuição de episódios
- Narrativa intrigante e competente naquilo quer mostrar e explorar.
- Boa apresentação deste universo, quer para um público novo, quer para os fãs de longa data
- Bom equilíbrio entre momentos de tensão e ação, com poucos de humor.
-Vi e Jinx com maior destaque e bem exploradas.
- Ótimo antagonista
- Restantes Personagens interessantes e bem desenvolvidos
- Animação única, interessante e bem executada
- Boa abertura de série.
- Boa direção
Pontos negativos:
- A divisão entre o 2º ato e 3º ato não tem bem conseguido.
- 1º ato apressado
- Viktor abandonado no 3º ato, sem rumo.
Nota: 18/20 - EXCELENTE
Comments